JUQUINHA, MEU AMIGO DOS SONHOS
Andar, andar, quero andar...
Noutro dia, sonhei com o Juquinha, da Serra do Cipó. Apesar de já ter ido tanto à Serra, ainda não conhecia
aquele lugar. Na mesma semana, sonhei uma segunda vez.
No sábado, chamei um amigo, pegamos o Bartolomeu - meu
carango, de sobrenome Negreiros - e fomos para a Serra.
Quando chegamos lá, o tempo estava meio frio, ventando e o
céu com várias nuvens. Aquele dia era de uma beleza única. O mar de montanhas
completava o cenário onde o Juquinha estava sentado.
Tudo era lindo demais. Mas não fazia sentido. O que eu
estava fazendo ali???
Por que eu havia sonhado, duas vezes na mesma semana, com
aquele lugar que eu não conhecia até então???
Por que aquele lugar havia me chamado?
O que eu estava fazendo ali???
Sem respostas, resolvi conhecer tudo que podia.
Na entrada havia uma lanchonete, fui conhecer. Ela pertencia
a um parente do Juquinha. O simpático rapaz contou que o Juquinha morava em
Conceição do Mato Dentro, mas que gostava de ficar ali, por dias. Na ocasião
não existia nada por ali e ele dormia numa reentrância das pedras, lugar que no
período das chuvas virava uma pequena cachoeira.
Um casal que nos ouvia, disse que chegaram a conhecer o
Juquinha. Eles moravam em Conceição e viajavam para BH de ônibus. Quando chegava
naquela região, o ônibus parava e o Juquinha entrava trazendo, sorridente, as “sempre-vivas”
que oferecia para os viajantes.
Aquela passou a ser uma parada obrigatória, esperada por
todos os passageiros.
Juquinha tornou-se
uma lenda na região. Todos conheciam o eremita das “sempre-vivas”.
Eu escutava tudo aquilo, mas ainda me perguntava: “o que eu
fazia ali???”
Conversei muito com o meu amigo dos sonhos; tirei fotos dele
de todos os ângulos.
Meditei muito também. Depois, meu outro amigo e eu resolvemos
conhecer um pouco mais e seguimos viagem em direção à Conceição.
A estrada estava deslumbrante.
No final da tarde, voltamos com a intenção de pegar o pôr do
sol junto ao Juquinha. O Bartolomeu veio voando por aquela estrada.
Quando avistamos o Juquinha, em uma reta após a curva, tomei
um grande susto. “Susto de beleza”. O sol
estava terminando de se pôr, atrás das montanhas, emoldurando o meu amigo dos
sonhos com raios de uma luminosidade deslumbrante que seguiam em direção ao céu.
Era um visual indescritível. Divino.
Eu comecei a chorar, chorar, chorar, chorar, chorar ...
Eu chorava tanto que precisei parar o Bartolomeu, porque não
conseguia enxergar a estrada.
Gastei um bom tempo até me recompor.
A noite já estava chegando quando seguimos viagem. Descemos a Serra e quando chegamos lá
embaixo, outro susto. Um círculo imenso, de um amarelo vivo e estonteante, como
um queijo gigantesco e apetitoso, crescia entre duas montanhas.
Advinhem...
Tive outra crise de choro.
Até hoje, continuo sem saber ao certo a razão daqueles
sonhos com o Juquinha. Talvez, os sonhos tenham sido um convite. Talvez eu
tenha ido à Serra para conhecer meu amigo. Talvez eu tenha ido à Serra para “chorar
de beleza”.
Maria Tereza Naves
Agrello
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